Não é preciso voltar muito no tempo, até pouco mais de meia década atrás, o grande foco das fabricantes de processadores era a velocidade que cada um oferecia. Com a chegada dos chips com vários núcleos, a disputa direcionou-se para qual conseguia mais “Cores” de processamento. Agora que o mercado está voltado aos portáteis, a necessidade é: desempenho e economia.
Isso porque o mercado da tecnologia está ganhando um novo adjetivo principal: portátil. Novos tablets e smartphones surgem constantemente e, a cada anúncio, imprensa e consumidores ficam atentos a especificações que demonstrem ótima capacidade de processar várias tarefas e que não acabem com a bateria em poucos minutos.
Afinal de contas, já que é para o aparelho ser portátil, o que os usuários esperam é que estes dispositivos possam ser usados sem riscos de que a bateria se esgote em meio a algum trabalho importante. E não é sempre que existem tomadas por perto para permitir que as tarefas sejam retomadas.
CES 2011: o domínio dos processadores ARM
No início de janeiro foi realizada a CES (Consumers Electronic Show), maior evento de tecnologia do planeta, que acontece todos os anos em Las Vegas. É lá que são mostrados os aparelhos eletrônicos que irão fazer a cabeça dos consumidores durante o ano vigente. Em 2011 não foi diferente e os grandes destaques foram os tablets e smartphones (alguns considerados superphones).
O motivo para tamanho sucesso não está apenas nas telas de dimensões variadas, sistemas operacionais ou conexões HDMI. Por baixo das carcaças, processadores poderosos capazes de processar funções pesadas e econômicos o bastante para garantirem horas de funcionamento dos aparelhos (que precisam de baterias potentes, também).
São os processadores ARM (clique aqui para entender porque os processadores ARM podem mudar o rumo dos dispositivos eletrônicos), que trazem de volta a microarquitetura criada nos anos 80 e que foi abandonada pelos maiores fabricantes com a chegada dos x86 (tipo de arquitetura que inclui os primeiros Pentium e os atuais Core da Intel).
Fonte da imagem: ARM
Com várias remodelagens e avanços na tecnologia empregada, hoje eles voltam à cena com a voracidade de jovens componentes. Eles estão nos superphones LG Optimus 2X, Motorola Atrix e também em vários tablets, representados pelos nomes de Nvidia Tegra 2 e Qualcomm.
Grandes momentos
Apesar de ter despertado a atenção há pouco tempo, esta arquitetura de processamento já está no mercado dos portáteis há alguns anos. Os primeiros smartphones já traziam estes componentes em sua estrutura, assim como o Nintendo DS. São vários produtos muito conhecidos que já trabalham com o ARM e poucos sabiam.
Fonte da imagem: divulgação/Nintendo
Mas os smartphones evoluíram para superphones e os netbooks transformaram-se em tablets. Desde então, todos começaram a querer saber o que estava por trás de tamanha capacidade de realizar tarefas pesadas, em aparelhos tão pequenos. O Motorola Atrix, por exemplo, pode enviar vídeos em 1080p para televisores Full HD por meio da saída HDMI.
Quais as vantagens?
Para os portáteis, há uma série de vantagens na adoção da arquitetura ARM. Sendo menores que outros processadores, estes possuem circuitos mais simples para tornar mais diretos também os processos computados neles. Outra possibilidade que é conseguida por esses circuitos menores é o aumento do clock.
Mas o principal é realmente a economia de energia. Logicamente essa economia não reflete grandes números nas contas de luz, mas as baterias duram mais quando os processadores exigem menos energia. E essa redução no consumo só ocorre porque os processadores ARM utilizam circuitos menores, como já dissemos.
Quem são os leões?
Há quem diga que Intel e AMD são empresas incomparáveis. Talvez em computadores essa afirmação seja verdadeira, mas com o avanço do mercado de portáteis, outras fabricantes começam a ganhar espaço e se tornarem ameaças. Conheça agora as empresas que mais estão tirando o sono das atuais gigantes do mercado de processadores.
NVIDIA: da GeForce ao Tegra 2
Criada em 1993, a NVIDIA passou anos trabalhando apenas com placas gráficas. Por muito tempo não conheceu rivais a altura de suas GeForce, garantindo o domínio do mercado sem maiores dificuldades. Com a chegada dos Radeon (ATI, atual AMD), a história começou a mudar, até que nasceu a maior guerra dos chips de processamento gráfico.
Em busca de novos mercados
Em 2006, houve uma fusão entre AMD e ATI, o que deu muito mais força para a fabricante de CPUs concorrer com a Intel. NVIDIA e Intel começaram a trabalhar em conjunto para desenvolver plataformas de processamento gráfico e convencional das melhores maneiras possíveis. O problema surgiu quando a Intel passou a desenvolver seus próprios chipsets.
Com a ATI anexada à AMD e a Intel fabricando seus próprios chipsets, a NVIDIA decidiu ampliar seus horizontes mercadológicos e desenvolver os processadores Tegra (o primeiro aparelho a possuir a tecnologia foi o Microsoft Zune HD, em 2009). No começo parecia inofensivo, mas logo surgiram informações sobre o Tegra 2 Dual-Core e a história mudou.
Já no começo de 2011, foi anunciada uma nova parceria entre Intel e NVIDIA. Com o acordo, as duas empresas terão acesso total aos documentos e projetos da outra. Ou seja, a NVIDIA terá acesso aos projetos da Intel e vice-versa, o que dá dicas de que no futuro a NVIDIA poderá ingressar em mais um mercado (e que a Intel deve melhorar sua integração GPU x CPU).
Fonte da imagem: divulgação/LG
Durante a CES foram anunciados vários produtos que possuem o Tegra 2 em seu hardware. Os principais são os superphones Motorola Atrix, LG Optimus 2X e os tablets Adam Tablet, Toshiba Folio 100 e Acer Iconia A500. Vale lembrar que outros aparelhos devem surgir no decorrer do ano.
Principal processador: Tegra 2 (1 GHz, Dual-core)
Recursos:
- Suporte para câmeras digitais;
- Reprodução de vídeo: 1080p;
- JPEG: codificação e decodificação;
- Suporte para duas telas simultâneas;
- GeForce ULP (redução no consumo de energia).
Qualcomm: no início era apenas wireless
A Qualcomm começou a desempenhar atividades no mercado norte-americano em 1985, trabalhando no setor de transmissão de dados sem fio (comunicação por satélites). Com o avanço tecnológico, a empresa passou a trabalhar também com sistemas para celulares e outros tipos de redes wireless.
Para a fabricação de processadores para smartphones não demorou. Utilizando a arquitetura ARM, hoje a Qualcomm distribui processadores para várias marcas, como Samsung, Sanyo e Sharp. Em vez de unificar CPU e GPU (como faz a o Tegra da NVIDIA) os processadores Qualcomm Snapdragon podem integrar vídeo, conectividade 3G e GPS.
O surgimento dos superphones
Não foi apenas a NVIDIA que permitiu que as montadoras de celulares criassem os superphones. Um dos aparelhos mais comentados da CES 2011 foi o Sony Ericsson Xperia arc, que traz o processador Qualcomm Snapdragon de 1 GHz. Devido à integração com gráficos, ele permite a utilização da saída HDMI para enviar vídeos em alta resolução para televisores.
Fonte da imagem: divulgação/Sony Ericsson
Ao que tudo indica, a Qualcomm ainda não tem pretensões de partir do mercado de smartphones para participar também do segmento de tablets. Mas é importante dizer que, para este ano, estão previstos alguns novos processadores Snapdragon com a nova arquitetura Scorpion Dual-Core. O que pode despertar interesse por parte das fabricantes de tablets.
Principal processador: Snapdragon Scorpion de 1 GHz
Recursos:
- Reprodução de vídeo: 1080p;
- GPS integrado;
- Conectividade com redes 3G integrada;
- Conectividade com redes 4G.
Texas Instruments: calculadoras e smartphones
É bastante provável que você nem saiba que esta empresa exista, mas você já deve ter visto algum aparelho que utilize seus recursos. Fundada em 1930 (e desde 1947 atendendo pelo nome de TI), a empresa é responsável pela fabricação de sistemas de radares, infravermelhos, mísseis e computadores militares. Isso sem falar nas calculadoras gráficas e o ponto principal deste artigo, os processadores.
Em 2009, a Texas Instruments iniciou as vendas do chip de controle OMAP. Sem muita significância para o mercado de portáteis, apenas com a terceira geração é que o OMAP passou a ser reconhecido como uma opção viável para compor o hardware de smartphones. E não são aparelhos quaisquer, até o poderoso Motorola Milestone utiliza estes recursos.
As brigas começam
Em breve deve surgir no mercado o OMAP 4430, que deve chegar às lojas dentro do BlackBerry Playbook (tablet da RIM). Assim como acontece com o Snapdragon da Qualcomm, os chips ARM da Texas Instruments também ganham a integração com comunicadores 3G, garantindo mais conectividade nativa para os aparelhos que o adotarem.
Fonte da imagem: divulgação/Texas Instruments
Muitos já colocam o OMAP 4430 no mesmo nível do Tegra 2, o que significa que algumas empresas podem levá-lo para os tablets, aumentando (ainda mais) a abrangência da empresa que já atua nas mais variadas frentes comerciais.
Principal processador: OMAP 4430 (Dual-Core)
Recursos:
- Reprodução de vídeos: 1080p;
- Suporte para câmeras integradas: até 12 megapixels;
- GPU integrado.
Gigantes rastejantes: Intel e AMD
As duas empresas pecaram por pensarem que eram invencíveis. Agora precisam correr muito para não perder espaço para fabricantes de processadores para portáteis e ultraportáteis. Tanto Intel, quanto AMD demoraram muito até perceber que smartphones e tablets precisam de processadores próprios e que, realmente, vale a pena investir nestes setores.
Agora estão tentando levantar da queda para assumir os riscos de entrar em um mercado que já possui grandes nomes (Qualcomm, NVIDIA e Texas Instruments). Confira como estão os passos dessas duas gigantes que agora precisam assumir posturas de entrantes para conseguir conquistar um espaço nas prateleiras.
AMD: primeiros passos
Em 2006, a AMD se desfez do Imageon, divisão da ATI que era responsável pela fabricação de chips controladores multimídia. Dois anos depois, a Qualcomm adquiriu esta divisão e hoje é uma das maiores distribuidoras de processadores para dispositivos portáteis. Agora, a AMD precisa recuperar o tempo perdido e, segundo informações da imprensa internacional, já começou a desenvolver seus próprios chips ARM.
Por enquanto, apenas netbooks
Buscando concorrer com os processadores Intel Atom, a AMD anunciou há poucos dias o lançamento do AMD eBrazos. Este processador é recomendado para netbooks devido ao baixo consumo de energia, mesmo oferecendo a integração com o processamento gráfico. Faz parte do projeto AMD Fusion, que utiliza arquiteturas x86.
Fonte da imagem: AMD
Intel: desprezo total ao ARM
Hoje, a Intel conta com alguns smartphones e tablets (nenhum que possua expressão no mercado mundial) rodando com o seu processador Atom. Mas o grande ápice da empresa no campo dos portáteis é o Core i5 instalado no Eee Slate EP 121. O problema é que este aparelho não oferece a mesma economia dos concorrentes especializados em ultraportáteis.
Durante a CES, a Microsoft mostrou uma versão Alfa do Windows 8 rodando em um aparelho com processador ARM. Paul Otellini, CEO da Intel, afirma que se é possível rodar o sistema operacional da Microsoft em um ARM, o Intel Atom dará conta do recado, somando isso à compatibilidade que só a Intel oferece. Ou seja, nada de ARM para eles, por enquanto.
Fonte da imagem: divulgação/Intel
Ameaçadas em seu próprio ninho
Não bastasse a dificuldade de entrar no mercado de portáteis, agora AMD e Intel devem se preocupar com mais um problema. As fabricantes de chips ARM podem querer expandir seus horizontes e, em um futuro não muito distante, instalarem-se em computadores mais potentes, como desktops e notebooks.
O primeiro nome dessa ameaça é Projeto Denver, da NVIDIA. Há quem o chame de Tegra 4, mas neste caso o nome é o que menos importa. Pelos planos da NVIDIA, estes processadores não integrarão apenas CPU e GPU em um mesmo processador, irão muito além.
Utilizando a mesma plataforma ARM que tanto foi comentada neste artigo, a empresa pretende fabricar processadores poderosos que possuem total integração com as, não menos poderosas, placas de vídeo da empresa. E este deve ser apenas o primeiro passo da NVIDIA em direção ao mercado de desktops e servidores de alta performance.
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Como você pode perceber, há um ponto em comum entre as três principais empresas emergentes no segmento de processadores: arquitetura ARM. Com menor consumo de energia e maior potência de clock (devido às distâncias menores nos circuitos integrados), estes chips devem ser a principal fonte de processamento de eletrônicos no futuro.
Ainda que estejam limitados aos portáteis, projetos como o Denver da NVIDIA dão dicas de que dentro de alguns anos devem surgir processadores ARM também para desktops e notebooks mais potentes. O que todos esperam é que AMD e Intel sigam as tendências, ou então que desenvolvam projetos interessantes o bastante para concorrer com esta tecnologia.
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