Nos últimos dois anos, a Apple teve uma ascendência surpreendente. A Maçã mordida abocanhou um bom pedaço do mercado de tecnologia e assumiu o posto de empresa mais valiosa do mundo, desbancando sua maior concorrente: a Microsoft.
A organização fundada por Steve Jobs já domina o mercado de players multimídia portáteis com o iPod, as vendas do iPhone avançam em ritmo acelerado, o lançamento do seu tablet (o iPad) teve sucesso fenomenal e os computadores da marca batem recordes de aquisições.
Como a empresa conseguiu atingir níveis tão altos de excelência em seus produtos? Por que a concorrência não alcança os padrões de qualidade da Apple? O que a marca tem de especial para custar tão caro? A estratégia adotada pela empresa para deixar os concorrentes a ver navios é considerada injusta, pois tenta estabelecer um monopólio de fabricação, freia a livre concorrência e promove atos contra a liberdade de expressão.
Esse tipo de método para dominar segmentos de mercado foi muito praticado pela Microsoft, inclusive ocasionando uma série de processos judiciais embasados na Lei Antitruste. Estaria a Apple traçando os mesmo caminhos que a sua inimiga mortal? Quais fatores fizeram a Apple ser taxada como a nova Microsoft? Prepare-se para embarcar com o Baixaki em mais um tema polêmico entre as maiores empresas de tecnologia do planeta!
A história entre uma maça e uma janela
Você pode imaginar que a Apple e a Microsoft, tirando as brigas pelo mercado, não tenham nada a ver. Devemos informá-lo que este pensamento, muito comum por sinal, está errado. As duas empresas que perpetuam batalhas tecnológicas intermináveis já foram bem próximas.
Tudo começou na década de 70. Steve Jobs e Steve Wozniak criaram a Apple Computers Inc. em um dormitório da faculdade em 1976. Os dois jovens criaram um projeto rústico de computador: o Apple I consistia em uma placa de circuito envolta por uma caixa de madeira, um gadget bem avançado na época.
Um ano antes, outros dois estudantes obstinados fundaram uma pequena empresa chamada Microsoft. As histórias destas organizações se encontram em 1979, quando a IBM buscava um sistema operacional para o seu novo computador. Gates foi contratado para realizar o serviço, porém, sua solução não estava completa.
Utilizando um software comprado por US$ 50 mil – o Q-DOS –, a Microsoft desenvolveu o MS-DOS. Apesar de ser funcional, sua interface gráfica era muito inferior ao SO da empresa de Jobs e Wozniak, o qual, mais tarde, originou a geração de PCs Macintosh. Bill Gates não perdeu a oportunidade e formou uma parceria para aprimorar o novo projeto de computadores da Maçã. É isso mesmo, as empresas já foram parceiras!
Aproveitando os conhecimentos adquiridos e uma boa pitada de ambição, Gates desenvolveu uma versão similar do sistema operacional e começou a comercializá-la no Japão. Como era de se esperar, Jobs não ficou contente e acabou com a aliança das empresas. A partir de então, cada organização traçou seu próprio caminho.
Fonte da imagem: Joi Ito.
Depois do ocorrido, apesar da inovação proporcionada pela linha Macintosh, a Apple passou por maus momentos. O preço dos computadores, cerca de 10 mil dólares nos anos 80, limitou o crescimento da empresa. Em 1985, Jobs e Wozniak foram demitidos e tudo piorou: os modelos lançados pela Maçã foram considerados retrógrados e pouco funcionais.
A organização só começou a sair da crise em 1991 com o lançamento do primeiro PowerBook, computador portátil que voltou a estimular o mercado. Ainda meio bamba das pernas, a Apple resolveu repatriar Jobs no ano de 1996. Este foi o ponto crucial para a empresa sair da lama de uma vez por todas.
No final da década de 90 foi lançado o PowerBook G3, laptop com configuração potente e preço acessível, o qual, aliado ao iMac (projeto inovador que reunia componentes da CPU no monitor), retomou o espaço da empresa no mercado. Em 2001, surgiu o que talvez seja o grande responsável por alavancar o crescimento da Apple: o iPod. Desde então foi uma enxurrada de gadgets lançados pela Maçã. Em 2006 o MacBook ganha as prateleiras, um ano depois é a vez da primeira geração do iPhone e mais recentemente quem brilhou foi o iPad.
Conheça mais da história da Microsoft e a trilha seguida pela Apple com os artigos do Baixaki.
A grande explosão
Como pudemos observar, a última década foram os anos dourados para a Apple. De 2008 para cá, a empresa tem batido recorde atrás de recorde na venda de seus produtos. A Maçã chegou a faturar US$ 15,7 bilhões de dólares em um único trimestre, marca que, segundo a revista eletrônica Epicenter, superou em quase US$ 50 milhões o faturamento da Microsoft.
Em meados de 2010, foram publicadas pesquisas que indicavam a empresa de Jobs como a mais valiosa no ramo de tecnologia, deixando Gates para trás. Clique aqui e confira a cotação financeira das empresas apresentada pelo Google Finances. Estes índices expressivos só foram alcançados devido às estratégias de marketing e vendas muito bem aplicadas por Steve Jobs.
Apesar de o iPod ser o carro-chefe da empresa, tendo mais de 9 milhões de unidades vendidas até o terceiro trimestre de 2010, o iPhone e o iPad são fortes candidatos a assumir o status de queridinho dos macmaníacos. Neste mesmo período, o smartphone da marca já alcançava quase 8,5 milhões de compradores, enquanto o tablet batia os 3,2 milhões de vendas (vale ressaltar que este eletrônico teve seu lançamento bem mais recente).
Fonte da imagem: Coolcaeser.
Por sinal, em se tratando de smartphones, o iPhone tem até hoje o título de gadget mais cobiçado do gênero. O aparelho que estampa a maçã mordida é sonho de consumo para muitos usuários. Nos últimos meses surgiram alguns possíveis combatentes para este eletrônico, como oSamsung Galaxy S e o LG Optimus 2X.
O iPad aparenta seguir a mesma caminhada do smartphone da empresa. Seu lançamento foi um sucesso, levando pessoas a amanhecerem em filas para adquirir um modelo do tablet. Os produtos da Apple sempre tiveram como maior destaque suas plataformas robustas e integradas (ao contrário dos concorrentes fragmentados) e designs sofisticados. O Android e o Windows Phone 7 são dois sistemas operacionais que despontam como perigosas ameaças para a soberania do sistema operacional da Maçã.
O lado positivo dos aparelhos
O que levou a Apple a alcançar números surpreendentes de vendas? Por que seus produtos são considerados superiores? Como a marca obtém a excelência em tecnologia? Não existe uma fórmula pronta e perfeita para chegar ao patamar da Maçã, mas alguns fatores fazem a diferença.
O design dos gadgets desenvolvidos pela empresa prioriza a simplicidade, porém, sem perder a elegância e a sofisticação. A alta qualidade de construção e acabamento dos aparelhos da marca é incontestável. Este nível de detalhes dos eletrônicos comercializados por Steve Jobs corresponde aos anseios e necessidades de muitos usuários. Afinal de contas, quem não deseja ter apenas tecnologias de ponta em suas mãos, não é mesmo?
Fonte da imagem: Apple.
Os computadores que dispensam aquele amontoado de cabos que se entrelaçam na estante ou os celulares poderosos e com recursos inovadores fazem a cabeça de muita gente mundo afora. Os preços dos produtos da Apple são competitivos, no exterior. Entenda porque a Maçã mordida custa tão caro no Brasil lendo este artigo.
Controle absoluto sobre seus produtos
Nem tudo é o que aparenta. E no mundo dos negócios, vale quase tudo para garantir mais lucro. Até agora, vimos o que torna os eletrônicos da Apple tão desejados. Chegou a hora de entrarmos na área obscura da empresa e descobrir o porquê de especialistas e usuários implicarem com a marca.
Não é segredo que Steve Jobs não quer ninguém se intrometendo em seus produtos. A organização não aceita os pitacos e a participação de desenvolvedores externos em seus gadgets. Para impor suas regras, a empresa utiliza somente sistemas proprietários e fechados. O iOS, por exemplo, só pode ter programas desenvolvidos com as linguagens liberadas pela Apple.
Fonte da imagem: Wikimedia Commons.
Outro que sofre com a repressão da Maçã é o Flash, ferramenta para criação de animações interativas e execução de vídeos que funciona em navegadores. Nem iPhone, nem iPod e muito menos o iPad possuem compatibilidade com o software da Adobe. A alegação da Apple para ignorar a tecnologia estrutural do YouTube, por exemplo, é que ela tem várias brechas de segurança e ainda não apresentou a estabilidade desejada.
Em um primeiro momento, isso aparenta ser apenas uma posição da companhia para aumentar o domínio sobre seus produtos. Por outro lado, o HTML5 desponta no mercado como uma opção mais qualificada do que o Flash, o que embasaria o repudio da Maçã.
Plataforma fechada
A parte “podre” da Maçã não acaba por aí. A App Store e o iTunes são os dois produtos da empresa que têm sofrido as críticas mais contundentes. Isso acontece porque a empresa impõe uma série de restrições, muitas vezes mal explicadas, para a disponibilização e a transferência de conteúdo.
Se você é um desenvolvedor e deseja oferecer seus aplicativos para o iPhone ou iPod na loja online da marca, primeiramente é preciso realizar um cadastro na Apple, que passará por uma análise rigorosa. Caso sua licença como fornecedor tenha sido aprovada, os seus softwares devem ser estruturados nas linguagens adotadas pela Maçã, devem possuir código exclusivo (sem qualquer tipo de adaptação de ou para outra plataforma) e, mesmo assim, serão testados.
Fonte da imagem: Apple.
Esse cuidado da empresa de Jobs ao disponibilizar programas para seus clientes é aceitável, já que uma das maiores características da organização é sua busca pela excelência. Entretanto, há um grande número de desenvolvedores que têm reclamado dos critérios de avaliação aplicados. As alegações mais contundentes são de que a Apple simplesmente nega licenças a apps, sem qualquer explicação plausível.
O jailbreak deixou de ser considerado um crime, após longas disputas judiciais. Com isso, a empresa deixou de disparar represálias contra quem desbloqueia os aparelhos ou adquire programas não licenciados. Apesar disso, a Maçã não reconhece e não oferece suporte para aparelhos ou softwares que sofreram qualquer tipo de alteração.
O papo fica um pouco mais sério em se tratando do iTunes. Todo o conteúdo disponibilizado pela Apple em sua loja virtual de aplicativos obrigatoriamente deve acontecer pelo seu software. O iTunes é soberano, sem qualquer competidor reconhecido oficialmente. Devido a isso, podemos entender que nesse segmento existe a intenção de se estabelecer um monopólio.
Digamos que você comprou um álbum de músicas do seu cantor predileto pelo iTunes. Você se prepara para viajar e gostaria de curtir as músicas adquiridas no som do seu carro. Infelizmente, o equipamento do veículo não é compatível com o iPod. Uma saída seria transferir os arquivos para um cartão SD ou um MP3 player mais simples e inseri-lo no gadget automotivo. É nesse momento que você se depara com o problema: o conteúdo do iTunes não pode ser compartilhado com outros dispositivos.
Esse tipo de estratégia é exclusividade da Apple? Obviamente, não. A Microsoft seguiu esse tipo de tática por muito tempo com o Internet Explorer e o Windows. Nas versões mais antigas do sistema operacional produzido por Gates, era quase impossível desinstalar o navegador da marca.
Atualmente, o contexto é bem diferente. Com muita facilidade, o usuário consegue instalar outro browser para navegar pela web. É bom deixar claro que isso foi uma situação imposta pelo mercado, que exigia alternativas para explorar a internet, e não uma escolha amigável da Microsoft.
Nasce um novo ditador
A ditadura é um regime político em que o governo tem controle total da nação, impondo seus desejos sem a participação dos populares. Nesse tipo de governança a liberdade de expressão é um dos direitos outorgados pela democracia mais afetados. O Manda-Chuva da Apple já figurou capas dos jornais e sites por ter movido ações contra veículos de comunicação que divulgaram informações tidas como sigilosas.
Em 2005, a empresa processou sites que disponibilizaram algumas novidades dos seus produtos que ainda não haviam sido anunciadas. Nestes processos judiciais, a Maçã exigia que os autores informassem quais foram as fontes de informação.
Fonte da imagem: Mylerdude.
Um caso mais recente aconteceu com o iPhone 4. Depois de, supostamente, ter sido esquecido na mesa de um bar, o aparelho teve fotos espalhadas pela internet. A princípio, especulou-se que tudo não passava de uma estratégia de marketing. Quem interpretou de outra forma foram os responsáveis pela publicação das imagens, já que tiveram que arcar com um calhamaço de processos disparados pela Apple.
Na contramão, a empresa de Jobs é acusada de algumas práticas ilegais. O rastreio de contas e a manipulação de informações dos usuários seriam motivos de denúncia feitas por outras empresas e ativistas. As revelações de tentativas de instauração de monopólio (como já acompanhamos neste artigo) por parte da Maçã é outro motivo de muita dor de cabeça para Steve Jobs.
Conclusão...
Mesmo com tantas exposições, é difícil afirmar que a Apple é a nova Microsoft e que Steve Jobs trilhará os mesmos passos que Bill Gates. O fato de a Apple ter assumido o posto de empresa de tecnologia mais valiosa do mundo no lugar da Microsoft pode induzir algumas pessoas a pensarem que a Maçã está se tornando uma versão melhorada da criadora do Windows. Se visto apenas pelo ângulo da valia econômica, pode-se considerar que sim.
Algumas peculiaridades, como práticas que buscam estabelecer a soberania de um produto (casos do iTunes e do Internet Explorer) ou o controle de conteúdo (App Store e versões mais antigas do Windows foram exemplos citados), tornam os históricos das empresas ainda mais parecidos.
Entretanto, o estilo de atuação das empresas e os produtos oferecidos são bem diferentes – o que desbancaria a hipótese mencionada. A Apple conta com gadgets mais sofisticados e robustos, que estão obtendo recordes de vendas (puxadas pelo iPhone e iPad) e aumentando seu faturamento. Algumas atitudes e práticas da Maçã mais disputada do mercado não têm agradado seus usuários, um contexto delicado e que no futuro pode causar sérios problemas à Jobs.
Por sua vez, a Microsoft possui softwares mais acessíveis e investe bem menos em hardware. Não temos como negar que a organização fundada por Bill Gates não está em seus melhores dias e alguns produtos da marca têm perdido força no mercado. O IE tem oponentes da pesada; o Chrome e o Firefox têm dado trabalho ao navegador da Microsoft. Em relação ao sistema operacional, o Windows ainda tem o seu reinado. Apesar de ter uma queda considerável com o lançamento do Vista, parece que o Windows 7 veio para dar um novo ânimo à linha do SO.
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Leia mais no Baixaki: http://www.baixaki.com.br/tecnologia/7793-a-apple-e-a-nova-microsoft-.htm#ixzz1BTmom3Yl
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